21 de nov. de 2011

O mistério do caroço na Cereja em conserva

Cherry Stella444Uma das coisas que nunca vemos é caroço em cereja de conserva, pelo menos eu nunca vi, até hoje. Ao comer um generoso bocado de bolo de chocolate feito por minha esposa, resolvi comer uma cereja, então pensei "essa cereja vai me fazer mal", entretanto não foi o previsível que me impressionou foi o imprevisível: um caroço na cereja.
Cheguei até a duvidar se era caroço de cereja mesmo ou se alguém botou caroço de outra coisa pra me enganar mas até agora ainda acredito que era caroço de cereja. O caroço de cereja virou assunto do momento.
Eu era o único, em toda história da família, que encontrara um caroço na cereja em conserva. O primo Justino, só para tirar onda, disse que tinha guardado como relíquia uma publicação original do Jeca Tatu de Monteiro Lobato, mas nem isso tirou o encanto da cereja. Tudo bem, você deve estar nos achando uma família lesada, mas essa história traz algo importante: ainda conseguimos nos impressionar com coisas simples e elas estão ficando cada vez mais raras.

No mundo moderno onde o virtual torna-se cada vez mais presente e interativo, coisas como a simplicidade do caroço de cereja não significa nada para muitos. Vivemos num mundo de maior complexidade tecnológica, o que para alguns teóricos da educação e outras áreas, propõe a necessidade de um pensamento complexo, menos linear e mais focado na rede de interconexões humano-máquina. A simplicidade parece perder importância, mas é aí que ela ganha interesse por contraposição a um cotidiano complexo demais para nos oferecer uma experiencia de encantamento com a vida.

A vida das pessoas perde o sentido conforme se obriga a complexidade como necessidade, pois o homem precisa de coisas simples. Até mesmo na religião as pessoas procuram complicar juntando argumentos da física quântica e da química não sei do que para explicar porque crente não bebe, quando basta dizer que não bebemos por amor aos que são fracos para que não voltem ao vício destruidor. Penso que o argumento do amor, de tão simples, é satisfatório para o mais ferrenho opositor que tenha um pouco de solidariedade.

O Evangelho também é simples e aí está aquilo que nos espanta. Jesus nos ama e morreu em nosso lugar para nos salvar desde que o aceitemos como Salvador e Senhor. É simples demais, fácil de entender, porém muitos buscam pensamentos complexos sobre religião. Nesse tema de complexidade esquece-se a essência que é una por uma busca sem fim de conexões que ocupam a vida mas a destituem de sentido.

Os Coríntios do tempo de Paulo tinham uma vida cosmopolita também com certa complexidade para a época, entretanto enfrentavam contradições graves com a sua fé cristã como incesto, perversão de valores e outras coisas próprias de sociedades complexas. Até no momento da ceia do Senhor existia uma competição complexa entre eles, desrespeitando o significado desse memorial. Paulo os adverte e lembra do significado da ceia do Senhor e diz que "Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem." (1 Coríntios 11:30).

A vida complexa dos coríntios os adoecia espiritualmente. A sociedade moderna é espiritualmente doente. Necessitamos da simplicidade de Cristo. Sem as coisas simples, não somos nada, somos apenas um amontoado como um monturo de bugigangas inúteis, que é uma coisa complexa mas sem valor, ao passo que um pequeno texto bíblico pode nos levar a horas de meditação.

Lembro de uma experiência onde discutíamos lições da Escola Bíblica Dominical com professores antes de aplica-las no próximo domingo, interessante é que a discussão geralmente estendia-se por cerca de duas horas e tinha que ser encerrada devido aos compromissos complexos de cada um. Não critico a importância dos compromissos desses irmãos nem a relevância que tinham pois isso seria mesquinho, mas cito tal exemplo para mostrar como a complexidade da vida nos tira momentos importantíssimos de comunhão e meditação no evangelho.

Fiquemos portanto, com essa meditação: estamos complicando tanto nossa vida que não sobra espaço para Deus? Estamos valorizando as coisas pela sua complexidade e não pelo seu valor essencial? Essa meditação é importante, pois a capacidade de se impressionar com o simples é o que nos torna humanos e também é aquilo que, exatamente, nos aproxima de Deus. Simplesmente isso.

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